A BASE DA GEOGRAFIA

ESPAÇO GEOGRAFICO


Entendendo o “espaço geográfico”

Antes de mais nada gostaria de esclarecer que a Geografia como todas as outras ciências possui um objeto de estudo (um elemento central, um tema principal, um foco, um referencial) e no caso específico da Geografia o ESPAÇO é seu objeto de estudo.

Estudar o espaço quer dizer estudar uma parte específica do planeta ou como o professor Francisco Mendonça já apontou em seus trabalhos, o espaço pode também compreender espaços de outros planetas (as descobertas no planeta Marte por exemplo).

Fica então estabelecido que para se estudar Geografia é preciso, primeiramente SABER o que eu quero estudar, qual o TAMANHO da minha área de estudo, qual minha ESCALA de análise, para que depois de decidido isso eu possa DELIMITAR meu espaço a ser trabalhado. Em outras palavras, quero dizer que se eu vou trabalhar ou realizar um estudo sobre o BRASIL eu devo delimitar o Brasil como meu espaço de análise, e o que está além da fronteira que delimita nosso território não irá me interessar nesse primeiro momento, ou, se eu vou estudar o estado do Paraná, devo delimitá-lo como meu espaço de estudo, isso implica que os outros estados brasileiros não me interessam, mas somente o Paraná. Isso é delimitar um ESPAÇO como objeto de estudo, o qual irá apresentar várias informações a seu respeito, como clima, vegetação, relevo, cultura, economia e etc.

Mas precisamos saber também que nem sempre o ESPAÇO foi entendido como e com as mesmas funções, ou seja, a cada período histórico o ESPAÇO passou a ser entendido de forma diferente, como veremos a seguir.

Na idade média a principal ideia que se tinha do nosso planeta era de que “a Terra era um disco [...] e somente com as ideias de Aristóteles, após o século XII, é que se voltou a admitir, não sem grandes riscos, a esfericidade do planeta” (Andrade 1987,p.34). Depois com as navegações o planeta começou a ser “desenhado” no papel para que dessa forma outros navegadores e até mesmo os patrocinadores dessas viagens (que eram bastante caras) ficassem sabendo o que existiam no "além mar".

A partir do século XVI as colonizações se intensificaram e os viajantes colonialistas (que viajam para colonizar, ocupar, tirar proveito das outras terras) começaram a descrever e representar, com muitos detalhes, tudo o que observavam no novo espaço: rios, montanhas, lagos, desertos, planaltos, planícies, florestas e etc. Observaram ainda as diversas culturas existentes nesses espaços, como os índios Tupiniquins, os Tupinambás, os Tupis Guaranis entre tantos outros grupos nativos que já viviam aqui por milhares de anos. Essas observações passaram a ser uma preocupação dos dos países colonizadores, porém até o século XIX não havia uma sistematização (uma ordem, uma organização) para esses conhecimentos, eles eram realizados sem critérios ou por vários pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, mas isso acabou, se certa forma, contribuindo para a formação da GEOGRAFIA. As sociedades mais desenvolvidas no que diz respeito à produção industrial e capitalista como Inglaterra, França e mais tarde a Alemanha criaram sociedades geográficas que organizavam expedições científicas para outros espaços como África, Ásia e por toda a América (Norte, Central e Sul). Essas pesquisas ajudaram no surgimento de escolas nacionais de geografia.

Na Alemanha teremos Humboldt e Ritter e como organizador, sistematizador teremos Ratzel que também será apontado como fundador da geografia sistematizada, institucionalizada (dentro de uma instituição de ensino) e considerada científica.

Para os alemães a relação sociedade-natureza influenciava o que Ratzel denominava de “conquistas cultas” de um povo, ou seja, as condições naturais do meio determinavam o nível de conhecimento, de domínio da técnica, da forma de organização espacial. Em outras palavras esse era o pensamento DETERMINISTA dos alemães que dizia que se as condições do meio (da natureza) forem menos favoráveis (clima frio) os homens tendem a se desenvolver mais para “driblar” as dificuldades e dessa forma acabariam desenvolvendo mais técnicas, mais utensílios, mais abrigos, mais ferramentas e etc. e em lugares onde o meio é mais favorável (mais quente) os homens em geral tenderiam a ser “menos desenvolvidos”.

Para os franceses, que haviam perdido a guerra para os alemães, concordar com os argumentos deles seria a última coisa a se fazer, logo criaram o pensamento POSSIBILISTA, ou o POSSIBILISMO francês, onde a figura de Paul Vidal de La Blache foi considerada como a mais importante dentre os fundadores dessa escola geográfica francesa. Segundo Moraes (1987,p.69) “ a diversidade dos meios explicaria a diversidade dos gêneros de vida” ou seja, haveria uma possibilidade do homem adaptar-se e quanto maiores as diversidades melhores seriam as possibilidades de evolução dessa sociedade. O contato entre diferentes gêneros de vida seria um elemento fundamental para o progresso humano, pois para Vidal de La Blache esse contato possibilitava novos conhecimentos.

Vale lembrar que mesmo em oposição ao pensamento dos alemães ambos justificavam às explorações feitas nas suas colônias (como era o caso do Brasil).

Por muitos anos o estudo da Geografia foi a descrição dos espaços, fruto do pensamento dessas duas principais escolas (existiram outras como a Inglesa, a Americana, a Russa) e no Brasil só veio tomar uma forma diferenciada por volta de 1930, quando foi institucionalizada, e em 1934 foi criado pelo governo federal o Instituto Nacional de Estatística que no futuro se transformaria no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística o IBGE. Que tinha como função descrever todo o território nacional para que o governo soubesse exatamente quais eram as características e possibilidades industriais, minerais e sociais de cada região brasileira.
Depois das guerras mundiais (I e II) o mundo passou e perceber que o espaço era mais que aquilo se observava e se descrevia, que havia nele também a possibilidade de entender questões políticas, econômicas, sociais, ambientais, etc. o que levou a Geografia a sofrer algumas reformulações e o ESPAÇO agora tinha uma nova explicação.

O que tentei mostrar aqui pra vocês é que devemos sempre pensar em que período histórico estamos falando para podermos entender de fato quais os significados das interpretações dadas aos conceitos, como é o caso do conceito de ESPAÇO, que foi mudando de tempos em tempos e sempre respondendo conforme os interesses (principalmente) políticos de cada época.

Entendeu direitinho???

VEJAMOS QUEM É QUEM NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO:


Alexandre Von Humboldt

















(Fonte:http://www.jamescairdsociety.com/pix/250px-Alexandre_humboldt%20by%20Georg%20Weitsch%201806.jpg)



Paul Vidal de La Blache (Escola Francesa)




















(Fonte:(http://cache.eb.com/eb/image?id=41712&rendTypeId=4)



Friedrich Ratzel (Escola Alemã)
























(Fonte:http://www.geotropico.org/F-Ratzel.jpg)



Carl Ritter (Escola Alemã)





















(Fonte: http://cache.eb.com/eb/image?id=25919&rendTypeId=4)


Carl Sauer (Escola Americana)

























(Fonte: en.wikipedia.org/wiki/Carl_O._Sauer -)




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BIBLIOGRAFIA:

MORAES, A.C.R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1987.
ANDRADE, M.C. de. Geografia ciência da sociedade. São Paulo: Atlas, 1987.
GOMES, P.C. da C. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987.
MENDONÇA, F; KOSEL, S. (Orgs) Elementos de epistemologia da Geografia comtemporânea. Curitiba: Ed. da UFPR, 2002.

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