MAPAS MENTAIS - MANUAIS E DIGITAIS
A CARTOGRAFIA COMO RECURSO EM SALA DE AULA
A algum tempo venho pesquisando sobre as possibilidades que a cartografia pode apresentar no desenvolvimento do ensino de Geografia em sala de aula, e essa preocupação nasceu ainda nos tempos de faculdades e ainda anda comigo no meu dia a dia.
Quando me deparo com situações adversas em sala de aula fico pensando por muito tempo uma solução para tais acontecimentos, que podem ser desde uma não compreensão de um fenômeno geográfico qualquer como a recorrente falta de interesses dos alunos em estudar Geografia, onde ouvimos velhos frases pronunciada quase que diariamente: "pra que estudar Geografia?"
Quantos de nós, professores, linha de frente de batalha da educação nacional não presenciaram tais fatos? Imagino que muitos de vocês. Mas o que fazer para tentar driblar tais problemas? Como despertar nos alunos a vontade e o interesse pela Geografia?
Sei perfeitamente que não existem receitas prontas e sei também que cada turma apresenta características próprias e isso deve sim ser levado em conta, mas, sempre que me deparo com uma nova experiência testado por outros colegas geógrafos e que de alguma forma pode ser possível aplicá-la em minhas aulas, com certeza irei adaptá-las aos meus propósitos.
Com isso gostaria de aprensentar a vocês uma proposta de atividade que tem despertado interesse nos meus alunos pelo fato de aliar conhecimento ao mundo digital: OS MAPAS MENTAIS DIGITAIS.
Antes de mais nada acredito ser de sua importância levantar algumas referências para posteriormente adentrarmos na questão dos mapas mentais propriamente dita. Primeiramente devemos compreender que, conforme SEEMAN (2003:2008) "um mapa não é um produto estático, mas que depende da atividade cognitiva do indivíduo", ou como sitado por WOOD (1992:06) "o mapa não nos deixa ver qualquer coisa, mas nos deixa sabermos o que os outros viram" e continuando na mesma ótica de SEEMAN (2003:214) "O mapa, portanto, nunca é um ponto final, mas um estímulo muito poderoso para a memória e a construção da identidade".
Partimos então de uma idéia de que cada mapa, seja ele tradicional, convencional ou mental tem essas premissas: não são produtos finais, foram produzidos por alguém para representar algo à alguém e estão imersos em aspectos culturais que envolve o autor do referido mapa.
Sendo assim, trabalho não tem nada de misterioso, porém demanda por parte do professor um pouco mais de esforço, pois as aulas devem ser verdadeiramente planejadas para que todos tenham acesso ao processo como um todo, é necessário que todos os alunos acompanhem cada etapa, isso é fundamental.
Os mapas mentais DIGITAIS são na verdade mapas mentais desenvolvidos no laboratório de informática da escola, são mapas mentais desenhados no PAINT ou no OpemOffice.Org.Desenho (um programa similar ao Paint), porém do sistema Linux, muito comum nas escolas.
Pois bem, vamos então ao que realmente pode contribuir nas suas aulas, o passo a passo da atividade.
1º Passo: os MAPAS MENTAIS MANUAIS
O professor deverá solicitar aos seus alunos que desenhem livremente em seus cadernos ou em folhas de papel sulfite o trajeto entre suas casas e a escola. Isso é produzir mapas mentais, evocar aquilo que lhes é importante no seu dia a dia, são as cognições formadas a partir dos elementos culturais que envolvem cada aluno em questões.
2º Passo: o USO DO LABORATÓRIO
Neste momento muitos professores podem questionar a utilização de seus respectivos laboratórios, sei que algumas escolas resistem em não deixar os professores com seus alunos frequentarem esse espaço, mas insisto, precisamos mostrar que é importante e essencial o uso desse espaço para o desenvolvimento intelectual dos nossos alunos.
Solicite então aos seus alunos que façam novamente seus mapas mentais, mas agora usando as ferramentas PAINT ou OpenOfffice (do Linux) que são ferramentas próprias para esse fim.
É claro que algumas coisas serão bem diferente pois desenhar com lápis é uma coisa mas desenhar com computador é outra. Mas concentre-se nos elementos que serão evocados, que muito provavelmente serão os mesmos do primeiro mapa (ruas, casas, prédios, parques, etc.) pois são elementos que fazem parte do seu dia a dia.
Perceba que além de desenvolver a cartografia você pode também estar desenvolvendo capacidades NOVAS nesses alunos, pois alguns podem estar em frente a um computador pela primeira vez.
3º Passo: IMAGENS DE SATÉLITE
No Estado do Paraná o governo disponibiliza um portal denominado DIA A DIA EDUCAÇÃO onde todas as disciplinas possuem materiais para consulta tanto dos professores como para os alunos, o endereço é esse: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/index.php?PHPSESSID=2009072716335069
Nesse portal, na disciplina de Geografia, temos a possibilidade de usaruma ferramenta chamada MAPAS INTERATIVOS e neles a visualisação de imagens de satélite do programa GoogleEarth. Com isso solicito aos meus alunos para localizarem a cidade onde moram por meio do GoogleEarth, é um verdadeiro fascínio entre os alunos, principalmente quando descobrem que as imagens são "vistas de cima".
É nesse momento que podemos usar e abusar dos conceitos da cartografia (VISÃO VERTICAL, VISÃO OBLÍQUA, ESCALAS, ORIENTAÇÃO, ETC.), o fato de estarem diante de algo INTERESSANTE possibilita verdadeiras construções cognitivas.
Peço então aos alunos que localizem monumentos da cidade, como prédios, bosques, parques e etc. para que consigam localizar o lugar onde moram. Em alguns casos, nem é preciso solicitar isso, alguns alunos já buscam imediatamente.
Ao encontrarem suas respectivas casas peço que fazem o trajeto até a escola observando o que "faltou" nos seus mapas mentais, que elementos eles "esqueceram" de colocar, quais as principais diferenças encontradas. Esse momento é mágico, pois os alunos constroem verdadeiros conceitos sobre a organização do espaço (pontes, rios, ruas, casas, prédios, igrejas, etc.) que fazem parte do seu dia a dia aparecem ordenados no espaço, é verdadeiramente uma construção do saber, do conhecer, do pertencer.
4º Passo: O MAPA MENTAL DIGITAL FINAL
Depois disso, solicito aos alunos que façam outro mapa mental digital, agora com memórias da visualização das imagens de satélite, demonstrando a importância de colocarem aquilo que havia ficado "de fora" nas primeiras etapas. O resultado final é surpreendente, para ambos os lados. E trabalhar Geografia acaba tornando-se algo INTERESSANTE!!
Veja a evolução dos mapas mentais:
PRIMEIRO MAPA MENTAL (MANUAL)
SEGUNDO MAPA MENTAL (DIGITAL)
TERCEIRO MAPA MENTAL (DIGITAL) APÓS VISUALIZAR AS IMAGENS DE SATÉLITE
REFERÊNCIAS:
KOZEL, Salete. Ensinar geografia no terceiro milênio. Como? Por quê? In.: Revista RAE ́GA – O Espaço Geográfico em Análise – Departamento de Geografia da UFPR. Curitiba: Ed. Tec Art, v. 1, p. 61-78, 1998.
---------------. Salete; NOGUEIRA, Amélia Regina Batista. A geografia das representações e sua aplicação pedagógica: contribuições de uma experiência vivida. In.: Revista do Departamento de Geografia/FFLCH/USP. São Paulo: Humanitas, n. 13, p. 239- 257. 1999.
---------------. Salete. Das imagens às linguagens do geográfico: Curitiba a “capital
ecológica”. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo – USP: São Paulo, 2001.
---------------. Salete. As representações no geográfico. In: MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (Orgs.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.
SEEMANN, Jörn. Mapas e Percepção Ambiental: do Mental ao Material e vice-versa. Vol. 3, nº1. Rio Claro. pag. 200-223, setembro de 2003.
SIMIELLI. M. E. R. O mapa como meio de comunicação. Implicações no ensino da geografia do 1º grau. (Tese de Doutorado). FFLCH – Departamento de Geografia. São Paulo. 1986.
---------------, Cartografia e ensino. Proposta e Contraponto de uma obra didática. USP. São Paulo. 1996.
---------------. M. E. R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, A. F. A. (org.). Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, p. 92-108. 1999.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia – Um estudo de percepção, atitudes e valores do meio ambiente. (Tradução de Lívia de Oliveira). São Paulo, DIFEL. 1980.
---------------. Espaço e Lugar: a Perspectiva da Experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.
WOOD, D. The power of maps. New York: Guildford Press, 1992.
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